"Os homens passam grande parte da vida falando de duas coisas: mulher e futebol. Quando se trata do quesito mulher, eles telefonam, articulam, combinam, se encontram e, na maior parte das vezes, não dá em nada. Por nada se considera sair para jantar seguido de um lugar onde se dança; a noite pode ou não terminar na cama, e na madrugada, na hora de ir cada um para sua casa, pinta um "valeu" ou um vago "eu te telefono" -quando pinta-, o que não quer dizer rigorosamente nada; e tchau tchau.
Já as mulheres -dos 12 aos 90- que estão sós têm, todas, uma idéia fixa: o desejo de encontrar um companheiro, um acompanhante, um namorado, um amante ou um marido. Por pudor, eliminaram do vocabulário as palavras amor, paixão e casamento; afinal, mulheres resolvidas não podem falar de coisas tão fora de moda. Assim, ter uma pessoa com quem sai frequentemente, sem nenhum rótulo, já quebra o galho. E que ninguém cometa a gafe de perguntar "estão namorando?", porque na maioria das vezes elas não sabem; adorariam saber, mas não podem perguntar.
Já os homens não falam dessas coisas; talvez -talvez- entre eles role às vezes -às vezes- uma conversa de como seria bom ter uma mulher esperando por eles em casa; mas elas estão tão independentes, tão conscientes de sua liberdade e dos seus direitos, que é preciso muita coragem para propor alguma coisa de mais permanente. A palavra casamento não pode, jamais, ser pronunciada. Às vezes o homem cai de quatro por uma mulher, mas como estão sempre rodeados de amigos, rindo e brincando, cada um sendo mais inteligente e espirituoso que o outro, ela nem percebe. Afinal, quem tem a coragem de falar de sentimentos a esta altura dos acontecimentos? E que mulher vai levar a sério aquele namorado que vive dizendo as mais divertidas bobagens sobre as coisas? Para falar sério é preciso um certo clima, o que é evitado cuidadosamente por ambas as partes.
Mas, se um homem quer uma mulher, de verdade, para que ela se apaixone não é preciso que ele tenha nenhuma das qualidades -aquelas- de que se fala por aí; ser um gato, ter um sobrenome famoso, um helicóptero e propor, numa quinta-feira, irem passar o fim de semana na Jamaica não impressiona ninguém.
Uma mulher -estamos falando de mulher, claro- só quer uma coisa de um homem: interesse e atenção. E atenção + interesse = amor.
Faça uma experiência: quando estiverem num bar qualquer, fique olhando de longe, sem dizer uma só palavra, e rapidamente ela começa a tomar conhecimento de sua existência. E quando chegar perto procure, devagarzinho, saber tudo sobre ela.
Por tudo se compreende se tem medo de raio, de trovão ou de avião, do que gostava de comer na infância, o que queria ser quando crescesse, o que quer da vida agora; essa pergunta é, aliás, perigosa, pois pode obrigá-la a responder os chavões feministas de sempre; pergunte se tem pesadelos, do que mais gosta de fazer, dos livros que leu quando pequena, dos que mais gostou. E aquela cicatriz no joelho, como é que aconteceu? Ah, um homem que quer saber da cicatriz do nosso joelho é absolutamente irresistível. Uma coisa leva a outra, e de repente ela vai estar perguntando como é que ele escolheu aquela profissão, quantos irmãos tem, se mora sozinho, se acha que Pelé é melhor que Maradona, desde quando usa óculos e por que.
Tem um problema: essas perguntas só podem ser feitas quando são absolutamente sinceras; mas, quando acontecem, mais da metade do caminho está andado.
Ah, se eles soubessem que nenhuma mulher, nenhuma, resiste a um homem que percebe, carinhosamente, que quando ela está nervosa seu olho esquerdo pisca.
Você resistiria?
Nem você nem ninguém.
Mas poucos sabem."
Danusa Leão
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