sexta-feira, outubro 31, 2003

Por que se ama alguém?

Ninguém ama outra pessoa pelas qualidades que ela tem, caso contrário os
honestos, simpáticos e não-fumantes teriam uma fila de pretendentes batendo
à porta.

O amor não é chegado a fazer contas, não obedece a razão.

O verdadeiro amor acontece por empatia, por magnetismo...

Ninguém ama outra pessoa porque ela é educada, veste-se bem e é fã do
Caetano. Isso são só referenciais.

Ama-se pelo cheiro, pelo mistério, pela paz que o outro lhe dá, ou pelo
tormento que provoca.

Ama-se pelo tom de voz, pela maneira que os olhos piscam, pela fragilidade
que se revela quando menos se espera.

Então que ela tem um jeito de sorrir que o deixa imobilizado, o beijo dela é
mais viciante do que LSD, você adora brigar com ela e ela adora implicar com
você. Isso tem nome.

Você ama aquele cafajeste. Ele diz que vai e não liga, ele veste o primeiro
trapo que encontra no armário.

Ele não tem a maior vocação para príncipe encantado, e ainda assim você não
consegue despachá-lo.

Quando a mão dele toca na sua nuca, você derrete feito manteiga.

Ele toca gaita de boca, adora animais e escreve poemas...

Por que você ama este cara? Não pergunte para mim. Você é inteligente. Lê
livros, revistas, jornais.

Gosta dos filmes dos irmãos Coen e do Robert Altman, mas sabe que uma boa
comédia romântica também tem o seu valor.

É bonita. Seu cabelo nasceu para ser sacudido num comercial de xampu e seu
corpo tem todas as curvas no lugar (ou quase). Independente, emprego fixo,
bom saldo no banco. Gosta de viajar, de música, tem loucura por computador e
seu fettucine ao peso é imbatível. Você tem bom humor, não pega no pé de
ninguém.... Com um currículo desse, criatura, por que diabo está sem um
amor?

Ah, o amor, essa raposa. Quem dera o amor não fosse um sentimento, mas uma
equação matemática:

eu linda + você inteligente = dois apaixonados

Não funciona assim. Amar não requer conhecimento prévio nem consulta ao SPC.

Ama-se justamente pelo que o Amor tem de indefinível.

Honestos existem aos milhares, generosos tem às pencas, bons motoristas e
bons pais de família,
tá assim, ó!

Mas ninguém consegue ser do jeito do amor da sua vida!

(Luís Fernando Veríssimo)

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